Felipe Grinberg
Wilson Witzel faz nesta quarta-feira sua defesa diante do Tribunal Especial Misto (TEM), que julga seu processo de impeachment. O governador afastado chorou ao pedir a palavra antes de começar o interrogatório. Na sua defesa, Witzel ainda citou os processos de impeachment de Fernando Collor e Dilma Roussef.
— Deixa o povo julgar. Em 2022 teremos eleições. Não vejo um movimento "Fora Witzel". Estou sendo julgado pelo STJ, vamos colocar a carroça em frente dos bois? — afirmou o governador afastado.
Na sua fala de abertura, o governador lembrou que quando escolheu Edmar Santos para ocupar a Secretaria de Saúde, o ex-secretário não dava indícios de ter histórico de corrupção, como foi constatado depois na investigação que revelou um esquema de corrupção na saúde Estadual. Em seu discurso prévio, Witzel se emocionou:
— Fui servidor público e militar da Marinha de Guerra. São 35 anos de vida publica movida pelo sentimento de lealdade e amor. O que estão fazendo com a minha familia é muito cruel. Deicidi deixar a magistratura por um ideal. Prometi que a saúde do Rio seria exemplar, mas infelizmente o secretario (Edmar Santos) não acreditava - afimou Witzel.
Ele lembra que Edmar Santos, que prestou depoimento mais cedo, foi condecorado pela Alerj com a medalha Tiradentes e que o ex-secreatário era considerado uma "pessoa boa" pelos deputados da casa. Segundo ele, quando procurou por profissionais para ocuparem a secretaria, buscou por alguns profissionais, dentre eles Edmar, que, afirmou Witzel, nao indicava ter um colchão na sua casa com R$ 8 milhões.
— Da onde apareceu esse dinheiro? Foi pago a ele como propina pelo pagamento de serviços prestados no Pedro Ernesto. Quem pagou isso? O patrão dele, o Edson Torres. É sempre assim. Fulano pediu dinheiro no meu nome. Foram duas buscas e apreensões na minha casa e o que acharam? - pergunta o depoente.
Segundo Witzel, os repasses de Edson Torres para Edmar Santos eram movimentações exclusivas dos dois, e que por isso desconhecia dos desvios na área da Saúde. Perguntado pelo tribunal se teria condições de saber a rede de corrupção, ele afirmou que só descobriu do esquema depois das investigações começarem.
— A delação é toda pautada na palavra unica e exclusiva dele (Edmar Santos). A versão do Edmar é dele - ressaltou.
O governador afastado recorda que ao assumir o executivo maior do Rio herdou problemas graves na saúde e na educação e que fez uma campanha "pobre", sem relação com empresários. Se disse perseguido por ter dado autonomia à polícia para investigar o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e por ter sido o primeiro governador a decretar medidas de isolamento contra o avanço da contaminação de Covid-19.
— O processo de impeachment é muito doloroso. Não se trata de um julgamento onde ao final vamos resolver algo pontual. É o fim de um projeto político que foi eleito com 4,6 milhões de votos. Se esse processo for a frente, abre-se um precedente para que ninguém mais governe — afirmou.
Mais cedo, minutos antes do depoimento do ex-secretário Edmar Santos, que foi ouvido em sigilo pelo Tribunal Especial Misto (TEM), Witzel disse que havia uma organização criminosa agindo dentro da secretaria de Saúde. Segundo ele, o desvio de recursos não foi comprovado, mas é preciso ouvir todos os participantes do esquema:
— Havia uma organização criminosa agindo na Saúde do estado do Rio de Janeiro, na sombra, e nos depoimentos do Edson Torres e nos depoimentos do Edmar, eu identifiquei, e hoje isso será explorado aqui, quem efetivamente é o chefe da organização criminosa. Não foi ouvido ainda um dos participantes dessa organização criminosa, que segundo depoimento do Edson Torres, essa pessoa, Zé Carlos, foi apresentado ao Edmar para que ele fizesse parte dessa distribuição de caixinha — afirmou.
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