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A Paraíso do Tuiuti, Beija-Flor de Nilópolis e Viradouro, esta a campeã do desfile de 2020, o último realizado antes da pandemia, definiram nesta sexta-feira os sambas-enredos que vão levar para a Marquês de Sapucaí, em 2022. As três foram as últimas agremiações a definirem os hinos que vão embalar as escolas no próximo carnaval. As escolhas das composições vitoriosas começaram na terça-feira, na Cidade do Samba, na Zona Portuária do Rio, contemplando três agremiações por dia.
A disputa começou pela Tuiuti que vai defender na Avenida o enredo “Ka Ríba Tí Ye - O Tuiuti canta histórias de luta, sabedoria e resistência negra", desenvolvida pelo carnavalesco Paulo Barros.A parceria vencedora foi a formada por Cláudio Russo, Moacyr Luz, Júlio Alves, Alessandro Falcão e W. Correia Filho. Luz, já havia se sagrado campeão, na terça-feira pela Mangueira e também disputou pela Vila Isabel. A escola de São Cristóvão vai abrir os desfiles da segunda-feira de carnaval.
Na Beija-Flor, a parceria vitoriosa foi a de J. Velloso, Léo do Piso, Beto Nega, Júlio Assis, Manolo e Diego Rosa. A escola levará para a Avenida o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor", desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada. A azul e branca de Nilópolis vai fechar o desfile no domingo de carnaval.
A última escola a definir o seu samba foi a campeã de 2020. Para representar na Sapucaí o enredo "Não há tristeza que possa suportar tanta Alegria", dos carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon, os jurados escolheram o samba dos compositores Felipe Filósofo, Fabio Borges, Ademir Ribeiro, Devid Gonçalves, Lucas Marques e Porkinho. A Viradouro será a quinta escola a se apresentar no domingo de carnaval.
As votações concluídas nesta sexta-feira serão exibidas pela TV Globo, em uma parceria com a Liga Independente das Escolas de samba (Liesa), no programa Seleção do Samba, apresentado por Luis Roberto e com os comentaristas Milton Cunha e Teresa Cristina, aos sábados, a partir do dia 16 de outubro, após o programa Altas Horas. No dia 13 de novembro, data do último programa, serão reapresentados todos os 12 sambas oficiais escolhidos para o Carnaval 2022. Jorge Perlingeiro, presidente da Liesa, destacou a importância da parceria com a Globo:
— A parceria com a TV Globo foi fundamental para que conseguíssemos potencializar esta grande manifestação cultural que é o carnaval, mostrar os sambistas tão talentosos que são capazes de se reinventar para sempre levar o melhor desfile para a avenida. Com o programa, queremos trazer novos públicos para perto da festa. Estamos dando protagonismo a quem realmente se esforça em perpetuar esta festa tão relevante para o Rio de Janeiro — disse Perlingeiro.
Desfiles ainda dependem da queda nas taxas de transmissão
Apesar de todas as 12 escolas do Grupo Especial já terem definido seus sambas-enredos, o desfile de 2022 ainda não é garantido. O secretário municipal de Saúde Daniel Soranz disse nesta sexta-feira que o carnaval vai depender da taxa de transmissão da Covid-19. A declaração foi feita durante a audiência pública da Comissão Especial do Carnaval da Câmara de Vereadores do Rio, presidida por Tarcísio Motta (PSOL).
— A recomendação da Secretaria de Saúde a todos os órgãos da prefeitura é que se programem, sim, para fazer réveillon espetacular, o maior carnaval da nossa história no ano que vem, mas é claro que a gente vai acompanhar os números muito de perto. É claro que a gente precisa ter uma taxa de transmissão baixa, uma capacidade de atender pessoas, caso tenha aumento do número de casos. Se tiver uma taxa de transmissão alta por si só já não dá para fazer carnaval e, é claro, ainda vamos precisar de algumas medidas de proteção — afirmou Soranz.
Também presente na audiência, o presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, se mostrou otimista com a realização do carnaval 2022. Ele ressaltou, no entanto, que, caso seja necessária a redução de público, como ocorre nos estádios, prefere adiar o evento:
— A exemplo do futebol, que já abriram estádios com capacidade reduzida, quero avisar que o carnaval não é assim. Já temos acordo com todos que trabalham no carnaval. Nosso espetáculo é diferenciado. Se disserem que só podem ter 50% da Sapucaí, iremos para julho de 2022. Não vai querer um componente de máscara, dois metros de distância um do outro, jogando um regador de álcool em cima dele, não tem a menor possibilidade de fazer.
Conheça os últimos sambas-enredos definidos para 2022:
Paraíso do Tuiuti
“KA RÍBA TI YE – Que Nossos Caminhos se Abram”
Autores: Moacyr Luz, Cláudio Russo, Aníbal, Píer, Júlio Alves e Alessandro Falcão
Intérpretes: Celsinho Mody e Nino do Milênio
Olodumarê mandou Oxalá me conduzir pelo céu da liberdade Me falou Orunmilá Vai meu filho semear pelo mundo a humanidade Nos caminhos de Exú Me perdendo encontrei nua e crua essa verdade Que a raiz do preconceito Nasce do olhar estreito da cruel desigualdade Sou alabê gungunando o tambor Trago cantos de dor, de guerra e de paz Pra ver secar todo pranto Nagô E gritar por direitos iguais Meu sangue negro que escorre no jornal Inundou um oceano até a Pedra do Sal
Eh! Dandara! A espada e a palavra eh! Não vai ser escrava Hei de ver noutras negras minas Um baobá malê que nasceu do chão Pra vencer a opressão com a força da melanina Negro é cultura e saber Ka Ri Ba Ti Yê caminhos de sol Por onde Otelos, Estelas e Teresas de Benguela Se fazem farol Pra iluminar alafins E morrer só de rir feito mil Benjamins E Cantar! Cantar! Cantar... A beleza retinta que veio de lá E Cantar! Cantar! Cantar... Pra Saudar O Meu Orixá Ogunhiê! Okê Arô! Laroyê! meu pai Kaô Tem sangue nobre de Mandela e de Zumbi Nas veias do povo preto do meu Tuiuti
Beija-Flor de Nilópolis
"Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor"
Autores: J. Velloso, Léo do Piso, Beto Nega, Júlio Assis, Manolo e Diego Rosa
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
A nobreza da corte é de Ébano Tem o mesmo sangue que o seu Ergue o punho, exige igualdade Traz de volta o que a história escondeu Foi-se o açoite, a chibata sucumbiu Mas você não reconhece o que o negro construiu Foi-se ao açoite, a chibata sucumbiu E o meu povo ainda chora pelas balas de fuzil Quem é sempre revistado é refém da acusação O racismo mascarado pela falsa abolição Por um novo nascimento, um levante, um compromisso Retirando o pensamento da entrada de serviço Versos para cruz, conceição no altar Canindé Jesus, ô Clara!! Nossa gente preta tem feitiço na palavra Do Brasil acorrentado, ao Brasil que escravizava E o Brasil escravizava!! Meu pai Ogum ao lado de Xangô A espada e a lei por onde a fé luziu Sob a tradição Nagô O grêmio do gueto resistiu Nada menos que respeito, não me venha sufocar Quantas dores, quantas vidas nós teremos que pagar? Cada corpo um orixá! Cada pele um atabaque Arte negra em contra-ataque Canta Beija Flor! Meu lugar de fala Chega de aceitar o argumento Sem senhor e nem senzala, vive um povo soberano De sangue azul nilopolitano Mocambo de crioulo: Sou eu! Sou eu! Tenho a raça que a mordaça não calou Ergui o meu castelo dos pilares de Cabana Dinastia Beija Flor!
Viradouro
“Não há tristeza que possa suportar tanta alegria!”
Autores: Felipe Filósofo, Fabio Borges, Ademir Ribeiro, Devid Gonçalves, Lucas Marques e Porkinho
Intérprete: Zé Paulo Sierra
Amor, escrevi esta carta sincera Virei noites à sua espera Por te querer quase enlouqueci Pintei o rosto de saudade e andei por aí Segui seu olhar numa luz tão linda Conduziu meu corpo, ainda O coração é passageiro do talvez Alegoria ironizando a lucidez Senti lirismo, estado de graça Eu fico assim quando você passa A avenida ganha cor, perfuma o desejo Sozinho te ouço se ao longe te vejo Te procurei nos compassos e pude Aos pés da cruz agradecer à saúde Choram cordas da nostalgia Pra eternidade, um samba nascia Não perdi a fé, preciso te rever Fui ao terreiro, clamei: obaluaê! Se afastou o mal que nos separou Já posso sonhar nas bênçãos do tambor Amanheceu! Num instante já Os raios de sol foram testemunhar O desembarque do afeto vindouro Acordes virão da Viradouro Tirei a máscara no clima envolvente Encostei os lábios suavemente E te beijei na alegria sem fim Carnaval, te amo, na vida és tudo pra mim Assinado: um pierrot apaixonado Que além do infinito o amor se renove Rio de Janeiro, 5 de março de 1919
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